Será a maior crise do arroz dos últimos 50 anos? Um colapso mundial de abastecimento ou é apenas uma “Crise Artificial” de interesses políticos e de mercado?
Desde 2015 venho alertando sobre o tema, primeiro com o artigo, “O FUTURO DO MERCADO MUNDIAL DE ARROZ?”, onde, na época, antecipei os prováveis acontecimentos, principalmente, quanto às restrições das exportações pela Índia, fato que está acontecendo desde setembro de 2022.
Na sequência, ainda em 2015 com o artigo, “ARROZ: A MAIOR CRISE MUNDIAL DOS ÚLTIMOS 50 ANOS.”, fui enfático dizendo: “Se os líderes do mundo permanecerem…, alienados… e não fizerem o dever de casa, o impacto da crise… poderá até passar despercebido por mais 2 ou 3 anos, mas não passará do próximo ciclo climático. Aí então, essa conta provocará um colapso no abastecimento mundial do arroz.” E também na época como solução, afirmei que os governantes deveriam: “… chamar a iniciativa privada, garantir o livre mercado, … e permitir que esse cereal assuma o status de commodity agrícola mais importante para a segurança alimentar mundial.”
Em 2021 e 2022 com os artigos: “ARROZ LONGO: CENÁRIO PARA O DECÊNIO 2021 a 2030.” e, “POR ONDE PASSA O RALI DOS PREÇOS DO ARROZ PARA O PRÓXIMO CICLO PÓS LA NINA.” Aqueles que lerem detalhadamente estes artigos tirarão suas próprias conclusões, pois, o histórico e os prováveis acontecimentos estão escritos, muito bem contextualizados em uma base sólida de estudo, pesquisa e conhecimento prático. Hora em diante é seguir os fatos e manter-se atualizado.
Não vejo como sendo apenas uma “crise artificial” de interesses políticos e de mercado, pois, os fatos em 2015 já eram robustos, previsíveis e cada vez mais estão potencializando-se para uma
possível crise mundial, porque os governantes e suas instituições continuam com medidas políticas momentâneas e paliativas, de um lado, sobrestimam as projeções da produção e dos estoques, do outro lado, subestimam as demandas internas dos países e das exportações, “tapa-se o sol com a peneira” e os relatórios oficiais ficam positivo, fazendo o estoque mundial aumentar (artificial) ano a ano, passando de entorno 100 milhões/t em 2016, para 180 milhões/t em 2020 (oitenta por cento de crescimento em quatro safras é para “pirar” a inteligência). Assim, a crise estará sempre atemorizando até que os governos façam uma política séria e de valor, para valorizar a “máquina” da produção que são os agricultores e seus familiares.
O cultivo de arroz é uma das atividades alimentícias mais importante da Ásia com 90% da produção e os produtores são um dos grupos profissionais mais pobres e extremamente vulneráveis aos impactos, principalmente de mercado. Como boa referência perante aos demais países asiáticos, observa-se a Tailândia que possui uma produção de arroz de médio a alto desempenho. E, entorno de 65% das famílias dos produtores tailandeses estão endividados, são pequenos e mini agricultores com seus familiares trabalhando em situações análogas e sem retorno financeiro, já na Índia muitos perderam a esperança e segundo dados do próprio governo quase 11 mil agricultores, trabalhadores agrícolas tiraram sua própria vida em 2021, uma média de 30 suicídios por dia, a causa principal, depressão por endividamento.
Então, atualmente estamos em um colapso de abastecimento mundial? Com certeza! Veja que mais de 75% dos estoques mundiais de arroz estão na China e Índia, sendo em torno de 65% na China que não está disponível para o mundo, também não se tem certeza da existência desses estoques, pois, é grande demandante e importadora. A Índia também grande demandante e exportadora, detém aproximadamente 10 a 12% dos estoques, mas, com as restrições às exportações limitaram a disponibilidade e confirmaram a vulnerabilidade. Assim, sobram
disponíveis apenas 25% dos estoques mundiais que representam em torno de 45 milhões/ton, para um mercado com no mínimo uma necessidade de 60 milhões/ton.
E para 2024? Vamos lá, tenho dito, repetido e se confirmou. “Que 2023 é ‘igualzito’ a 2007.” Isso era para chamar a atenção! Alertar! Passar o sinal, que os preços do arroz internacional no
final de 2023 poderiam chegar a um recorde absoluto, assim como aconteceu em 2007. Nessa mesma projeção é de se esperar que “2024 seja igual a 2008?” Sim, tem chance de acontecer!
Em 2008 os preços continuaram a subir e além de bater o recorde de 2007 ultrapassou na época o valor de U$20 dólares e foi considerada uma grande bolha. No contexto atual, utilizando todos
os parâmetros de análise e colocando os mesmos índices de 2008, sim, dá para prever que em 2024, os preços continuarão nos patamares mais elevados e até poderão no seu pico ultrapassar o limite de U$30,00 a U$32,00 dólares. Este é o desenho e os sinais do que poderá acontecer, porém deve-se estar prevenido para que quando verbalizado com antecedência, o sistema alerta-se e os fatos poderão não acontecer na mesma ordem e proporção.
Gilberto Pilecco – 30 de dezembro de 2023.