No Brasil, as mulheres agricultoras representam 47,9% da produção rural e 52,3% da população economicamente ativa. A tomada de decisão no agronegócio por mulheres, que foi de 1% de 1991 a 1998, hoje representa 10%. Ao apresentar estes dados na quarta-feira, 9 de março, durante o painel Mulheres Felizes x Negócios Saudáveis, no Auditório Central da Expodireto, o agrônomo Murilo Damé Paschoal ressaltou que, entretanto, as mulheres ainda representam uma figura de “autoridade de reserva” e ainda não constam dos organogramas das empresas.
“Elas respeitam a posição dos demais gestores nas suas atividades, mas atuam a fim de somar na gestão. Eles são capazes de entender questões estratégicas que envolvam o seu negócio agrícola na empresa familiar”, destacou o consultor da agência Safras & Cifras no 2º Encontro de Empresárias Rurais, organizado pela Cotrijal, com apoio da Bayer.
Para um auditório composto por produtoras rurais de diversas regiões do Rio Grande do Sul, o especialista disse que a tendência é que cada vez mais mulheres sucessoras ocupem seus postos nos organogramas das empresas familiares, assumindo espaços de comando que antes eram reservados apenas aos homens. Outros componentes favoráveis, na visão de Paschoal: as mulheres passaram a viver mais, ocupam cada vez mais espaço no mercado de trabalho e, atualmente, são responsáveis pelo sustento de 37,3% das famílias.
Ao referir-se à sucessão familiar, o agrônomo apontou dados que considera “alarmantes” no Brasil. Segundo trabalho elaborado pelo Sebrae/MG, de cada 100 empresas da primeira geração, somente 25 terão sucesso na segunda geração familiar. Pior: 17 serão bem sucedidas na terceira e menos de 10 na quarta. Entre as principais causas do fracasso da empresa familiar, destaca-se o rompimento de comunicações e de perda da confiança (60%). Seguem-se a preparação inadequada dos sucessores e herdeiros (25%) e razões técnicas e conjunturais (15%).
Outros fatores que devem ser levados em conta na sucessão na comparação com outras épocas é a maior longevidade do país, o maior nível, o menor número de filhos, os regimes de casamento e a necessidade de manter e aumentar a escala de produção do negócio. Paschoal também chama a atenção para a relação menos autoritária entre pais e filhos e, também, para a necessidade de maior conhecimento de gestão financeira, administrativa e tributária e a valorização no preço dos imóveis rurais.
Entre as dificuldades identificadas pelo painelista, estão os problemas de comunicação e coordenação, a falta de definição de tarefas e poder, a diferença na formação empresária dos sócios, a vontade de ter mais poder, a intromissão na tarefa dos outros sócios. Outros fatores destacados envolvem investimento e distribuição de lucros, a remuneração dos sócios pela influência de familiares externos à empresa. “Os herdeiros devem se familiarizar desde cedo com a rotina da empresa, para manter o vínculo deles com o negócio. Caso contrário, viram paraquedistas. É importante passar às próximas gerações os princípios e os valores que norteiam a criação do negócio”, aconselhou o agrônomo.